I. A ser gravado em pedra na Ag. 0658 do
Banco Santander
Eu, o poeta
Dante Felgueiras,
com braços e
pernas e tronco e nervos
e um bacharelado
adquirido a baixo custo,
lego aos filhos
esta dívida, o quinhão mais justo.
Que ao menos
esta nota que escrevo
escape da
penhora e de outros pesos.
II. Gente jovem se auto-admirando no
retrovisor
Mesmo entre nós
ouvi dizer
que “tudo muda”
e que “nem todo
chá vai em colher”.
Compreendo os
argumentos 100%,
mas na minha
cara agora bate um vento
que não ajuda.
Mesmo entre nós
ouvi dizer
que “mais tarde
é que se vai colher”,
mas não ajuda.
III. Linhas escritas na pior
Lembra quando
olhávamos a lua cheia
e víamos aquele
coelho inequívoco?
(não roía
absolutamente nada, o coitado)
E a noite:
trotskistas enxugando lágrimas
em nuvens,
cantando “fly me to the moon”?
Se bem que já
faz tanto, tanto tempo...
Disseram que
nunca mais o assum preto
pousará na nossa
praça; faz muito calor
e, ao que
parece, tudo é velho sob o sol.
A entremanhã
roeu os nossos inícios.
Não há nuvem que segure este sol cínico.
Não há nuvem que segure este sol cínico.
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